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sexta-feira, setembro 30, 2005

Redacção sobre a situação política internacional

O texto que se segue foi elaborado por um rapaz de 8 anos quando a professora de Geografia pediu à classe uma redacção sobre a situação política internacional. A escola do primeiro ciclo de Alticães de Baixo encontra-se assim representada numa reunião de rotina o Concelho da ONU e o texto irá ser traduzido para oito línguas e lido na abertura da próxima reunião da Comissão Europeia presidida pelo ex-primeiro ministro de um país pequenino onde toda a gente se queixava de grandes preços (e de outras coisas).

Era uma vez...

Um país muito pequenino onde toda a gente se queixava de grandes preços. E os preços aumentavam sempre!

Depois, uma tempestade enorme inundou as ruas de uma cidade de um outro país aparentemente rico, mas com uma grande dívida externa causada por querer invadir todo o planeta Terra, e interrompeu os circuitos de abastecimento de um óleo preto de rocha que servia para os carros andarem e outras coisas.

E depois, num outro país muito grande e rico, vizinho do país afectado pela calamidade natural, os habitantes também começaram a queixar-se de um aumento exagerado nos preços de tudo!
Nuns países muito quentes, lá loooonge, onde se produzia esse tal óleo especial, de rocha, combustível, umas pessoas começaram a esfregar as mãos de contentes. Porque apesar de toda a gente se queixar de aumentos nos preços, ninguém se atrevia a fazer nada para substituir o lobby do “óleo de rocha”. Então o preço do barril subiu assustadoramente.

Então, os preços todos subiram, os países foram deixando de poder comprar combustível, gradualmente, até que as carroças, os carros a álcool de cana e os carros movidos a energia eléctrica e com painéis solares começaram a deitar abaixo o lobby do combustível preto.
Mas como não tinha havido tempo para aperfeiçoar os carros a energia eléctrica, estes não tinham grande autonomia. O mesmo se passava com os carros com painéis solares, que só podiam sair quando estava sol. Os ambientalistas rapidamente inviabilizaram a comercialização de carros a álcool de cana por causa das emissões dos tubos de escape.

Então, um pouco por todo o mundo as pessoas voltaram a usar os carros de bois e de cavalos, porque eram mais baratos, alimentavam-se quase sozinhos e ainda podiam ajudar numa série de outras tarefas.

Foi assim que começou a dar-se um êxodo urbano nunca antes observado. Em breve teve que ser abafada uma tentativa de especulação relativamente ao preço das ferraduras e do feno, mas nada de muito grave. As raças nativas de gado mais rústicas voltaram a ser valorizadas e fizeram-se chegar aos povos mais necessitados, carroças puxadas por oito Percheron monstruosos carregadas de provisões de arroz geneticamente modificado para produzir nutrientes essenciais e prevenir as mortes por fome e desidratação.

E viveram todos felizes para sempre.




segunda-feira, setembro 26, 2005

Ramblings of a mad citrus

Hoje só me apetecia ter ficado debaixo dos lençóis a imaginar coisas boas. Gelados, salada de pepino ou cenouras, paus de canela e leite creme. Por isso mesmo, levantei-me assim que o despertador tocou e atirei-me ao trabalho com unhas e dentes!

Quando a preguiça ataca, é preciso contra-atacar antes que ela se apodere nos nossos neurónios entorpecidos...

As coisas que uma pessoa se lembra de escrever... Parecem as notas de heterónimo indefinido, agarrado ontem à noite a uma garrafa de rum, um saco de gelo picado e um pote de morangos triturados. Esta manhã a dor de cabeça abafada. Talvez imaginada. Pode ser que um dia lhe dê para escrever sobre sexo. Quem sabe o que a bebida e a reflexão densa lhe trará para fora. Além dos ácidos estomacais.

(post parcialmente inspirado nos escritos de rino e olivia sempre sem acento, claro)




quarta-feira, setembro 21, 2005

Dessa tarefa que eu própria resolvi assumir

O estábulo dos cavalos alados

Com a falta de emprego generalizada resolvi oferecer-me, em regime de voluntariado, para tomar conta de um tal estábulo de cavalos alados. Claro, com o objectivo de me manter tempo suficiente para que acabem por se ver obrigados a contratar-me e a pagar-me bem pelos meus serviços. Eventualmente.

Quando cheguei ao local não havia estábulo nem cavalos alados. Suspeitei que se tratasse de um esquema para apanhar jovens inocentes desprevenidas com um engodo eficaz. Mas nem cinco minutos passaram quando uma massa enorme desceu do ar e passou a meio milímetro da ponta do meu nariz. O cheiro a enxofre intensificou-se e caí, tonta.

Antes que me pudesse levantar, mais três seres volumosos passaram a grande velocidade, mesmo por cima da minha cabeça. Quando olhei para cima vi-os lá, no ar. A peneirar aquele enxofre nauseabundo com as asas monstruosas (10 metros de envergadura). Imediatamente o meu cérebro começou a funcionar, estimulado pelos gases amarelados e eu parecia um gerador de ordens. Em menos de meia hora estavam presos às paredes rochosas da caverna em abóbada, 10 argolas de ferro, tinham sido erguidas duas paredes a dois metros de cada lado das argolas e feno cobria o chão.

Dei um berro e os 10 diabinhos que abriam as mangedouras na parede, por cima das argolas, acabaram e saltaram rogando pragas e inventando alcunhas nada simpáticas também para mim. Enchi as reentrâncias divididas por um septo com água sulfurosa e matéria orgânica em decomposição misturada com feno.

Imediatamente as 10 criaturas aladas vieram aglomerar-se em torno da refeição. Foi só passar-lhes os cabeções pelas cabeçorras enquanto deglutiam avidamente a substância mal-cheirosa e pronto. A partir daí, exigi uma máscara de oxigénio e sentei-me num monte de feno a ler “Evolution, Systematics, and Phylogeography of Pleistocene Horses in the New World: A Molecular Perspective”. Ignorando, obviamente, os protestos de David que ainda não tinha conseguido uma única vez encontrar disponível aquele maldito telefone preto.




segunda-feira, setembro 19, 2005

Da vontade irresistível de comer pipocas

O despertador tocou. Oito e quinze da manhã. Abre os olhos, estremunhado, e não vê nada à sua volta. - Droga! Programei o alarme para as oito da noite!!! - Esfrega os olhos e começa a perceber os contornos familiares do quarto. Uma quase-claridade tímida e cinzenta apodera-se do ambiente. Abre a cortina e vê-se obrigado a acender a luz porque lá fora está quase mais escuro do que às oito da noite de ontem.

Lavar a cara, vestir, preparar pequeno almoço. Resmungar. Preparar o almoço para levar. Comer, calçar os sapatos, sair e voltar a entrar. Se, como se disse aqui, a chuva é o choro de Deus, então ele está a ter um ataque de histeria...

Espera. A chuva engrossa. Espera. A chuva divide por dois a intensidade... Resolve sair assim mesmo! E a chuva triplica. Resmungou qualquer coisa acerca de histerismos prepotentes, olhou para o céu de uma cor só. Nem sequer havia nuvens! Só uma couraça de chumbo uniforme. Desejou ter limpa-pára-brisas nos óculos, apressou o passo e perdeu-se dentro da cortina de água.

Não voltou a aparecer, mas as suas pegadas ficaram marcadas na terra mole. Vistas de cima formavam a frase: “QUERO COMER PIPOCAS”, em maiúsculas, fonte não identificada.




sábado, setembro 17, 2005

Artigos de papelaria (Parte III)

Caneta marcador esferográfica azul encarnada verde preta lapizeira minas 0.5 borracha clips au!!!!! pionés...




terça-feira, setembro 13, 2005

Artigos de papelaria (Parte II)

Ele ali de boca aberta. Os dedos encontram o caminho por entre as maxilas escancaradas. A ferroada, o agrafo na ponta do dedo. Tira o metal da carne, passa-a por água fria. Acaba de introduzir a recarga no agrafador e volta a colocá-lo em cima da secretária. Ele fica lá, de boca semi-aberta, sonhos de abocanhar celulose.




segunda-feira, setembro 12, 2005

Portugal

Senti-me tentada a escrever um texto sobre a situação política em Portugal, face às últimas notícias e à crítica publicada por Miguel Sousa Tavares sobre o assunto. Contudo sinto não estar suficientemente isenta nem qualificada para analisar o assunto com o distanciamento e a profundidade necessários. Poderia emitir a minha opinião pessoal e a minha desilusão através de uma série de lugares-comuns, sugestões e palpites. Gritar, chorar, rir e dizer mal do governo. Mas isso já muitos fizeram e penso que os principais peritos e comentadores políticos já expuseram a situação de forma suficientemente clara. Mais ou menos imparcial...

Anyway, fica aqui expressa a preocupação desta cidadã portuguesa em relação ao futuro de Portugal pequenino e em dificuldades. Enquanto combato este sentimento de impotência que se apoderou de mim, deixo aqui o link para a crítica supra citada.




domingo, setembro 11, 2005

Artigos de papelaria (parte I)

I think I could fall in love with you any moment now...
My dear, your approach is certainly lovely and undoubtedly flattering but most inappropriate.
What goes on between the sheets shall remain their own secret. That’s why we hide under them. Love has got nothing to do with it. Get yourself together, will you? Please.

Não tendo mais nada à mão, pegou na caneta esferográfica meia roída e enterrou-a com violência na perna do seu amante. Depois, limpando os pedaços de músculo e sangue que vieram agarrados ao bico e ignorando os berros de dor do corpo masculino, escreveu a seguinte nota num lenço de papel sujo:

COULD was the key word, asshole.

A caligrafia perfeita, ligeiramente inclinada para a direita, mesmo na palavra propositadamente maiúscula e no insulto final...




sexta-feira, setembro 09, 2005

Maquilhagem

Enfrenta a vitrine. Gotas de suor começam a escorrer-lhe pelo rosto. Começa a percorrer as caixinhas com círculos de pó colorido. Pega num amarelo. Depois um negro iridescente e por fim um branco com o mesmo efeito. Larga tudo. Olha para a paleta dos púrpuras, roxos e magentas... Racionaliza. Já tem essas cores. Não precisa de duplicados. Cada círculo de pó colorido dura eternidades. Aproxima-se a assistente de vendas: Hi! Can I help you with anything? Sim, podia, de facto. Foi nessa altura que olhei para os olhos dela, e lhe perguntei que cores usava. E como as juntava assim de forma a que parecessem uma só. Levo essas, muito obrigada.

Escolher cores para o template novo de um blog é como comprar maquilhagem...

Hum? Ah não, nada. Template novo? Não! Que ideia... Quem disse que eu ia ter um template novo? Hã?




quinta-feira, setembro 08, 2005

O fenómeno da lingerie

Uma pessoa nasce e passa boa parte do tempo a tentar livrar-se das fraldas sujas e mal-cheirosas. Depois vem a fase em que começa a vestir-se sozinha. O que interessa é o aspecto da capa exterior. As cores, o estilo, as marcas. Em termos de roupa interior, qualquer cueca rota serve. Afinal de contas, quem vai ver? Ninguém! Que disparate! Roupa interior não é para ser vista. Claro. Obvio.

Bolas!! Agora tenho que usar soutiens porque me estão a crescer dolorosamente umas protuberâncias assim perto dos ombros, mais longe da barriga, e tal... Conjunto? Qual conjunto? Um pack de três soutiens cor-de-pele com um pack de 5 cuecas às risquinhas vermelhas, verdes e azuis. Não é para ser visto.

16 anos. Festa. O rapaz giraço da turma. As colegas oferecem um conjunto de lingerie, tecem uns comentários libidinosos e marotos, cheios de segundos sentidos, claro, e de repente comprar peças de roupa interior a condizer já começa a fazer sentido. Vá lá perceber-se por que razão.

23 anos. Ir às compras com o namorado já não é exactamente sinónimo de aquisição de CDs. Pelo menos não exclusivamente. A entrada em lojas especializadas em lingerie passa a fazer parte dos planos que fazem para as duas tardes/noites por semana que passam juntos.

28 e por aí adiante. Colecções nas gavetas. Para várias ocasiões, variações de humor e fantasísticas (passe o neologismo). O armário parece o camarim de uma “drag queen”.

Tudo porque é divertido observar o olhar extasiado de quem desembrulha um presente...




quarta-feira, setembro 07, 2005

O dia em que devia ter ficado em casa

Hoje é um dia em que devia ter chovido. Ou um dia em que estivesse um frio de rachar e um vendaval lá fora. Mas não. Hoje estava um calor impensável e saí para comer um gelado. Daqueles bem cremosos e sumarentos. Daqueles que atraem a língua para fora do portão labial. E ela demora-se na superfície macia, gelada e pingante. E quando ela estava numa orgia de sabor com a tentação cremosa, senti duas pontadas na perna. MERDA!! Umas calças brancas novinhas!!!




segunda-feira, setembro 05, 2005

Sobre a areia da praia

Depressa escureceu. Ali se deixou ficar com os pés descalços. Lá ao fundo o marulhar das ondas. A areia fria penetrou no espaço entre os seus dedos. Ali se deixou ficar com os joelhos nus. O vento acariciou-lhe os braços.

Três vezes por semana, caminhava até à praia no fim do dia de trabalho. Sempre sozinha. Passava pelo café, comprava um batido de fruta da época, cumprimentava o vendedor de jornais com um sorriso e descalçava os sapatos. Dirigia-se à areia e deixava que esta ocupasse os espaços vazios de carne.

Escureceu depressa. Fechou o quiosque dos jornais e deixou uma revista, dessas femininas, de parte. Observou-a. Os pés descalços enterrados na areia e os joelhos nus. Esperou que ela regressasse e estendeu-lhe a revista com um gesto mecânico e um sorriso no rosto. Ela aceitou, retribuindo o sorriso.

Entrou em casa e colocou com cuidado a revista em cima do monte de outras que nunca lera, mas que guardava com todo o carinho. Foi escovar os dentes para se ir deitar, com um sorriso branco de pasta no rosto. Não precisava de mais nada. Só um monte de revistas por ler e um sorriso inteiramente dedicado a ela. Três vezes por semana.




sexta-feira, setembro 02, 2005

Alguém escreveu, uma vez, um post dedicado a meninas vesgas.

Seguia atentamente com os olhos e os dedos espetados no monitor a sequência de letrinhas. Comparava-a com uma outra sequência, a referência. Teve que começar de novo algumas vezes. Merda, pá! No monitor uma neblina gordurosa dificultava já o trabalho de minúcia.
Agora mais complexa ainda se tornou a tarefa. É preciso converter uma sequência no seu complementar, seguindo sempre as instruções para correspondência do código de 4 caracteres alfabéticos. A missão: ler a referência da esquerda para a direita e a sequência reversa da direita para a esquerda, ao mesmo tempo, substituindo os caracteres pelos seus complementares...

E assim descobriu quão charmoso é fitar alguém com um olho e seguir as letrinhas no monitor com o outro. Que divertido observar as expressões confundidas e deslumbradas na cara dos interlocutores enquanto endireita mais umas sequências. E assim entrou para o círculo das raparigas charmosas e cobiçadas pelo seu olhar... Exótico.