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segunda-feira, maio 30, 2005

phonograma

Um pé descalço percorre o toule...
Surge por entre azul.
Guizos.
O joelho abre caminho. Movimento da anca. Chuva metálica.
O ouro das medalhas canta. Movimenta-se, seco.
O tambor. Tambores. Chuva metálica. Guizos.
Ventre proeminente.
De onde surge aquele volume? E onde se esconde?
Inspira, expira...
Olha.
Sorri.
Sempre.




quarta-feira, maio 25, 2005

Desentendimentos de linguagem II

(o homem e o seu cavalo: desfecho)

O cavalo empinou-se e deitou o cavaleiro ao chão.
A recusa categórica da corrida suicida contra a barreira de congéneres galopantes em sentido contrário.
O cavalo foi abatido por insubordinação.

FIM




sexta-feira, maio 20, 2005

Branco

(ou quando os seres se confundem)

Estavam os dois gatos lá estirados no chão de madeira. Pela janela entravam os primeiros raios de sol de um fim de tarde cor-de-laranja. O soalho quente por baixo dos corpos enroscados.

As paredes brancas, brancos os cortinados e o tecto. Escura a madeira do chão, iluminada pela tonalidade de verão.

Os pelos roçando os outros. Membros esticando-se e dilatando-se com o calor.. Espraiavam-se pela madeira aquecida sempre enroscados um no outro.

Os gatos também.




quinta-feira, maio 19, 2005

Mal entendidos de linguagem

Um homem e o seu cavalo

O homem montou o seu cavalo para a guerra, e o cavalo não soube como dizer não...




domingo, maio 15, 2005

Arquitectura emocional

Uma vez cruzei-me com um homenzinho pequenino. Ele vivia assim numa cidade com uma ponte igual à da minha, num país do Norte. Do lado de lá do oceano. Duas pontes irmãs em pontos tão distantes do planeta...

Mas esse homenzinho, dizia eu, vivia dentro de um frasco de vidro. De tão enroladinho só conseguia ver o próprio umbigo...

Por vezes a criaturinha saía do frasco e divertia-se a insultar as pessoas escondendo-se por trás do escudo amolgado a que chamava “sentido de humor”. Ora, cada vez que os visados protestavam contra os seus insultos, eram logo acusados de não possuírem sentido de humor. E para mais, ele era tão pequenino e de horizontes tão limitados que não aceitava críticas negativas. Mesmo que fossem construtivas.

Coitado. A mim nem me ofendia. Pelo contrário. Divertia-me quando esperneava dentro do seu frasquinho a olhar para o próprio umbigo e a disparar insultos em todas as direcções. E ficava desvairado quando alguém o desafiava. Porque isso lhe destruía a ilusão de que não existem outras culturas e pontos de vista espalhados por esse mundo fora. Aliás, isso destruía-lhe a ilusão de que não existe mundo além das fronteiras do seu frasquinho.

Enfim, eu, um pouco maldosamente, confesso, divertia-me a observá-lo. Ofender-me com os seus insultos? Não, não. Ele era tão pequenino e vivia tão enrolado sobre si mesmo que não podia saber, coitado...




quinta-feira, maio 12, 2005

Por brincadeira

Hoje saí à rua. Vi todas as caras conhecidas que teria visto distribuídas por dias, se tivesse saído antes...
Vi a colega de curso, vi a senhora que apanha o comboio. Voltei a vê-la no teatro. Vi o pianista e os pais. Os amigos. E a actriz da telenovela.

Eu não gosto de telenovelas. Não as vejo por sistema. Mas basta ver uma fracção da história da bióloga que tem emprego onde quer, para memorizar. Não há biólogos verdadeiros com o emprego que querem. Não em Portugal. Não gosto de telenovelas. São pessoas de brincar com empregos de brincar. Com emoções pegajosas. Beurk.. Iiiik! Blargh! Blé...

Eu gosto do Sid, a preguiça de brincar, da idade do gelo. O Sid não tem emprego. Tem uma vidinha antropomorfizada de preguiça de desenho animado. Os humanos não falam, claro.

Eu vi a cantora do norte. No centro comercial, de braço dado com o namorado. Eu gosto da voz dela. Mas já não se ouve. Também é cantora de brincadeira? Eu não quero aparecer na televisão. Lá transformamo-nos em brincadeiras. Brincadeirinhas efémeras...




segunda-feira, maio 09, 2005

Deambulações

Gasta-se demasiada energia a criticar.
Mais uns joules a escrever baboseiras.
Nem falando das calorias que consome quem tem por refeição principal colocar-se num pedestal e engolir de uma só vez tudo o resto. Tenho saudades do "pack-man"...

Lembro-me que me contorci para me libertar. Procurei uma luz ao fundo do túnel e encontrei o candeeiro com a lâmpada de 40 watts. Fundiu-se. Porra, bati com o dedão do pé esquerdo numa dúvida sólida.

Perguntei-me se valeria a pena mais um hematoma. Respondi-me que não.

Enconstei-me à direita, abri uma brecha na parede e saí. Ah! Já sei o caminho.




domingo, maio 08, 2005

Arte abstracta

(Não que eu achasse que devesse o esclarecimento, mas achei que me ia divertir a fornecê-lo.)



direitos reservados (j. "lima" m.)

Capilaridades digitais e estatísticas são metáforas para produtos de um trabalho com números. Brincadeiras com moléculas da vida que jorram respostas incompreendidas.
E ó, há quem tenha a pretensão de as compreender, vejam só... Anda looooonge a despretensão... (risos)




quinta-feira, maio 05, 2005

Tratamento estatístico

Cabeleira desordenada, espetada. Dividida em tufos.
São dois, os tufos. Fáceis de vislumbrar.
Tina Turner stile.
Dois tufos de cor diferente. Cada fiozinho de cabelo ostenta a cor do aglomerado capilar respectivo. Nada fora do lugar. Desordem organizada.
Cabeleireiro estatístico. Cladograma capilar?
Ensaio.




quarta-feira, maio 04, 2005

Ode ao Abstracto

(ou quando as metáforas inflamam dentro de nós)

aqui




segunda-feira, maio 02, 2005

Desafio literário

Este veio através do Sr. Professor.

P - Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
R – Encurralada num enredo onde se queimam livros, talvez quisesse ser um livro do Paulo Coelho ou talvez um da Margarida Rebelo Pinto. Pelo menos a perda não seria grande..

P - Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção?
R – Sempre me fascinou o velhinho personagem MacGyver... As personagens literárias que mais me marcaram foram Flora Tristán (avó de Paul Gauguin) vista por Mario Vargas Llosa (em “O paraíso na outra esquina) e o velho pescador de Ernest Emingway em “o velho e o mar” entre muitas outras...

P - Qual foi o último livro que compraste?
R – “A obscena senhora D” de Hilda Hilst. Comprei porque sei que o universo de autores brasileiros não se resume aos Paulos Coelhos que andam por aí a publicar em série, mas com pouco conteúdo e muito menos variedade.. Perdoem-me os fãs. Os gostos discutem-se, e eu não gosto.
Já Hilda Hilst... Bem diferente. Não se compara, claro. Muito livre, muito rebelde, muito boa. Deus a tenha. Respeito.

P - Qual o último livro que leste?
R –“O velho e o Mar”. Nas alturas em que se pensa desistir do peixe, vale a perseverança, o orgulho e aquela pequenina característica que também nos distingue uns dos outros: a vontade teimosa de querer cumprir o máximo de objectivos possível antes de declarar a impossibilidade da tarefa.. Se não sabem do que falo, leiam o livrinho. Ernest Emingway sabe descarnar o esforço do quotidiano.. Sem esforço.

P - Que livros estás a ler?
R – "Memórias das minhas putas tristes" de Gabriel Garcia Marquez. Desde que li “100 anos de Solidão” e “Amor em tempos de cólera” que fiquei irremediavelmente presa a este autor. Depois de ler a sua autobiografia e de perceber então o clima imaginário e fantástico que envolve sempre os seus livros e de chegar a verificar a capa do livro para ver se estava mesmo a ler uma autobiografia ou um novo romance, rendo-me. Gosto de Gabriel Garcia Marquez. Chamem-me o que quiserem. Leio também “A obscena senhora D”. Estou a gostar do estilo de Hilda Hilst. Menos linear e menos fácil do que a escrita fluida de Gabriel, mas com mais impacto, a meu ver. Mais crua. Gosto. Pronto.

P - Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
R – O livro em branco. Caderno. Para escrever. Não suportaria passar sem escrever.. Levaria também “Em buca do tempo perdido” de Marcel Proust. É um livro em vários volumes, excelente para leitura em ilha deserta. Convida à reflexão. Levaria também um livro do Quino (como passar sem a minha rica banda desenhada? E o humor do Quino é boa companhia). Talvez levasse também “Os filhos do Capitão Grant”, de Júlio Verne (mais uma batota, é um livro em três volumes, mas fascinantemente bem escrito, sobre a procura e alguém passando pela paisagem inóspita mas fascinante da Patagónia e pela vontade imprevisível dos mares revoltos). Por fim, levaria a “Triologia do assombro”, da Helena Jobim. Só para relembrar um pouco dos pequenos sofrimentos conjugais do quotidiano. Ou melhor, a natureza das emoções humanas. Com um pouco de sentimentalismo, é verdade, mas tão bem explorado que uma pessoa se deixa embarcar na leitura sem se sentir demasiado invadida por um sensacionalismo vulgar.

P - A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
R – À Elvira, porque me parece que ainda não recebeu este desafio e porque me desafiou uma vez e porque fico curiosa em relação ao que responderia ela.
Ao Ulisses porque um dia lhe pedi uma lista de autores e ele não teve ainda tempo de a compilar. rsrs
Ao André porque escreve muito bem e deve ter influências interessantes. Porque todos vamos beber a fontes.
Ao Du, quando ele re-activar o seu blog.
À booklover por razões obvias! ;]
Camilinha, se quiseres responder, também tenho uma certa curiosidade em relação às tuas fontes. ;]




domingo, maio 01, 2005

Hoje

Hoje publiquei aqui. Sobre um encontro que fez parar o tempo.
Na quarta feira publicarei no mesmo local um texto do convidado da semana.
Depois, o moribundo 5contra1 morre definitivamente.
O Caipirinhas voltará a ser o único local a que me dedicarei.