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domingo, maio 15, 2005

Arquitectura emocional

Uma vez cruzei-me com um homenzinho pequenino. Ele vivia assim numa cidade com uma ponte igual à da minha, num país do Norte. Do lado de lá do oceano. Duas pontes irmãs em pontos tão distantes do planeta...

Mas esse homenzinho, dizia eu, vivia dentro de um frasco de vidro. De tão enroladinho só conseguia ver o próprio umbigo...

Por vezes a criaturinha saía do frasco e divertia-se a insultar as pessoas escondendo-se por trás do escudo amolgado a que chamava “sentido de humor”. Ora, cada vez que os visados protestavam contra os seus insultos, eram logo acusados de não possuírem sentido de humor. E para mais, ele era tão pequenino e de horizontes tão limitados que não aceitava críticas negativas. Mesmo que fossem construtivas.

Coitado. A mim nem me ofendia. Pelo contrário. Divertia-me quando esperneava dentro do seu frasquinho a olhar para o próprio umbigo e a disparar insultos em todas as direcções. E ficava desvairado quando alguém o desafiava. Porque isso lhe destruía a ilusão de que não existem outras culturas e pontos de vista espalhados por esse mundo fora. Aliás, isso destruía-lhe a ilusão de que não existe mundo além das fronteiras do seu frasquinho.

Enfim, eu, um pouco maldosamente, confesso, divertia-me a observá-lo. Ofender-me com os seus insultos? Não, não. Ele era tão pequenino e vivia tão enrolado sobre si mesmo que não podia saber, coitado...