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segunda-feira, setembro 05, 2005

Sobre a areia da praia

Depressa escureceu. Ali se deixou ficar com os pés descalços. Lá ao fundo o marulhar das ondas. A areia fria penetrou no espaço entre os seus dedos. Ali se deixou ficar com os joelhos nus. O vento acariciou-lhe os braços.

Três vezes por semana, caminhava até à praia no fim do dia de trabalho. Sempre sozinha. Passava pelo café, comprava um batido de fruta da época, cumprimentava o vendedor de jornais com um sorriso e descalçava os sapatos. Dirigia-se à areia e deixava que esta ocupasse os espaços vazios de carne.

Escureceu depressa. Fechou o quiosque dos jornais e deixou uma revista, dessas femininas, de parte. Observou-a. Os pés descalços enterrados na areia e os joelhos nus. Esperou que ela regressasse e estendeu-lhe a revista com um gesto mecânico e um sorriso no rosto. Ela aceitou, retribuindo o sorriso.

Entrou em casa e colocou com cuidado a revista em cima do monte de outras que nunca lera, mas que guardava com todo o carinho. Foi escovar os dentes para se ir deitar, com um sorriso branco de pasta no rosto. Não precisava de mais nada. Só um monte de revistas por ler e um sorriso inteiramente dedicado a ela. Três vezes por semana.