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segunda-feira, janeiro 31, 2005

O sol lá fora

O sol lá fora fere os cones e os bastonetes. Vi um pardal com um cisco no olho minúsculo e um cão com óculos escuros. Quando voltei a olhar para a escuridão cá de dentro, não vi nada. Não vi nada a princípio. Porque depois comecei a vislumbrar os contornos dos móveis, dos livros na estante e do teu rosto tão luminoso.

A luz cá dentro não fere. Não é crua como a do sol lá fora. Vi-te desenhado na parede em contornos de luz suave e sombra clara. Agora, ao som da voz da Amy Irving, “Why don’t you do right”, volto a pousar o olhar na luminosidade diluída do ecrã. Mergulho na obscuridade dos meus afazeres. Ficaste espetado na minha alma com um “pionés” de emoções. Possuis um brilho amarelado de latão desgastado pelo tempo, o meu preferido.




Brincadeirinha

Fui desafiada a responder a um pequeno número de questões sobre o tema “sexualidade”. Pois bem, para não correr o risco de soar demasiado a um programa do Júlio Machado Vaz, tentarei responder ao meu estilo. Pareceu-me um desafio interessante por isso mesmo. Vamos a isso:

1 - Have you ever used toys or other things during sex?

Ora bem, quando vamos jantar a casa de alguém que nos serve um prato que detestamos, não devemos dizer “não me apetece” ou “não tenho fome”. Se o dissermos, vão insistir até não termos outra saída senão comer o que já nos põem no prato à força. A solução está em responder “faz-me azia”. Dessa forma, só de pensar nos efeitos da azia, o anfitrião não irá insistir mais e, com um pouco de sorte, vão arranjar-nos algo diferente para comermos.

2 - Would you consider using dildos or other sexual toys in the future?

Pois bem, na mesma linha de raciocínio da resposta anterior, quando não queremos falar de determinados assuntos, a resposta mais adequada será “não me lembro”.

3 - What is your kinkiest fantasy you have yet to realise?

É que não me lembro mesmo...

4 - Who gave you this dildo?

Bom, se por “dildo” se entende este questionário, encontrei-o directamente endereçado a mim no Tabacaria.

5 - Who are the ones to receive this dildo from you?

Parece que terei que passar a batata quente para outras bandas. E vou escolher os autores que sei que não me irão desiludir, se responderem, pela sua originalidade e sentido de humor:

João P do Oranginalidade

ABC Dário do Webcedário




sexta-feira, janeiro 28, 2005

"Impressão digital"



As primeiras impressões foram excelentes. Não se percebe muito bem se os textos são ficcionais, se as situações descritas realmente aconteceram... Mas isso não é o que realmente interessa. O que realmente interessa é que as situações descritas poderiam de facto ter acontecido... E abrem-nos os olhos para certas vidas que circulam à nossa volta e que nem sempre vemos.

(Trata-se de um blog que não já não funciona por problemas técnicos, mas se formos lá ler os textos e deixarmos mensagens pode ser que voltemos a ter mais Impressões digitais noutro alojamento qualquer! ;))

Notícia de última hora: A impressão digital já está activa noutro alojamento!!!

LEITURAS SILENCIOSAS




quarta-feira, janeiro 26, 2005

A manhã seguinte



Dormem juntinhos como se disso dependesse o calor dos seus corpos... Como se fossem dois lagartos sagrados banhados pelo primeiro raio de sol da manhã. Lentamente, começam a abrir os olhos para o dia que começa e contemplam-se um ao outro com os seus ares lânguidos de todas as manhãs de sol. São lindos os gatos da minha avó...




sexta-feira, janeiro 21, 2005

Sem título

Roupa espalhada, copos vazios. No leitor de CDs o “Voo do moscardo” em repeat perpétuo..
Nhéc... Nhéc... Nhéc…. É preciso lubrificar a cama...
Por causa dos vizinhos?
Não. Porque me impede de apreciar a melodia dos teus gemidos...




quarta-feira, janeiro 19, 2005

"Pastel de Tentúgal" (co-autoria)



Um recém-nascido é sempre uma incógnita. É sempre bom vigiar-se atentamente os seus primeiros passos, para se ter a certeza de que vai crescer saudável e forte! Também os pastéis, quando estão no forno, têm que ser vigiados da mesma maneira. Pois a mim parece-me que estes três pastéis já, este recém-nascido já tem pernas para andar! Sobre tudo o que é nosso e não só! E de forma pertinente, bem humorada e crítica!




João



De estranho tem o amor, que é eloquentemente cantado com tons azul-melancolia, cinzento-nostalgia, cor-de-rosa-reconciliação e vermelho-paixão! Todos os dias se dedica aqui umas linhas a esse estado de alma. Mesmo quando este está de costas voltadas. Mas o amor diz sempre: "vou ali e já venho". E volta mesmo! E voltou!




terça-feira, janeiro 18, 2005

Sons e vidas

Trrtrrtttrrrrtttrrrttrrtrtr
Trrt tttttrrr

Parece um saco de berlindes a bater uns nos outros...
É um som claro e fino. De bolas de vidro.
Mas é um pisco. Daqueles com o peito ruivo.
É um daqueles seres que do alto das suas finas perninhas vêm o mundo com olhos negros e meigos.
Vêm o mundo de proporções gigantescas e distinguem sementes, céu e vida.




segunda-feira, janeiro 17, 2005

Alexandre Narciso



Quando os viajantes nos fazem viajar através das suas palavras são escritores bem sucedidos. Quando os escritores se servem da obra de outros para ilustrar as suas viagens verbais prestam um serviço de utilidade pública. Os leitores descobrem outras paragens, outros versos (mesmo que em prova) e outras cores! Visito diariamente! E recomendo (obviamente)!




domingo, janeiro 16, 2005

Recém nascido

Atropelo de ideias!
Respira... respira....
Não sai! O texto não sai!!
Falta de inspiração concreta?
Parto difícil.
Respira... respira...
Saiu... em forma de massa disforme de palavras.
Faz sentido? Como berra!
Respira... respira...

Obrigada!




sábado, janeiro 15, 2005

"After_Dark"



And one day he decided to let us all know why he called his blog "After_Dark". Why the hell is his own name Luiz Henrique? Why the hell did they decide to call those gatherings of letters "word"? And why did they decide to call letters "letters"...

O que eu quero dizer com isto é que o After_Dark é um lugar de leituras agradáveis e discussão amena. Seja lá qual for a razão pela qual um blog se chama "blog" e um texto bem pensado se chama bom.




sexta-feira, janeiro 14, 2005

Condicionalismos


Foto obtida via satélite, de fonte desconhecida. Clicar para aumentar.


Ia ser grande e famosa! Sonhava diamantes, carros e mansões. Com piscina!

!!!!!!!!!!!!!!!!! Abriu-se um buraco no chão????????

Acordou ao som da notícia na televisão de 20 polegadas, olhou pela janela, que dava para a lixeira, e recomeçou a fazer a ginástica diária: esticar o ordenado até ao fim do mês.

(Amanhã retomarei a programação que tinha vindo a adoptar nos últimos dias. Hoje apeteceu-me fugir à rotina outra vez. E talvez volte a mudar as regras: um texto intercalado com uma sugestão. Um dia um, outro diz outro. Talvez...)




quinta-feira, janeiro 13, 2005

"Ulisses"



Por acidente dei com este blog onde deixei um comentário a propósito de templates-papel de parede... Desde então não deixei de lá voltar. Mesmo que não haja textos novos todos os dias, a caixinha de comentários pode ser uma autêntica fonte de surpresas... Cada texto, o mais importante, é mais surpreendente do que o outro.




"Yurei-san"



Aqui entra-se num mundo à parte.




"Rinogas"



Quando os rinocerontes pegam nas canetas e partilham com os leitores as suas ideias, ideais e sonhos, os resultados são inesperados. Inesperadamente bons de ler.




JC



Quando os médicos desabafam dão-nos a conhecer um universo impressionante de maleitas físicas, e psicológicas. E por vezes deixam-nos com vontade de colar um penso rápido na alma. Ou de tomar um analgésico para o Ego.




quarta-feira, janeiro 12, 2005

Urgência de última hora ou a descoberta do amor próprio

Andava eu lá fora a brincar. Quer dizer, andava eu lá fora a fazer pela vida. Sim, todos os dias, a trabalhar. Se calhar nem gostava do que fazia. Se calhar até gostava, só não tinha as condições desejadas. Feliz é aquele que faz o que gosta nas condições que deseja! Pensava eu.

Andava eu lá fora a lamentar ter que fazer de tudo menos o que queria. Mas tive sorte! Ainda pude viajar e embrenhar-me por mundos fascinantes. Sim, embrenhei-me pelos meandros da vida! E das suas componentes mínimas! Moleculares! Ínfimas.

E depois levantei a cabeça da mesa e descobri o amor! O próprio e do dele! Afinal, feliz é aquele que ama. E que se ama (mas não demasiado...)!

(Amanhã retomarei a programação que tinha vindo a adoptar nos últimos dias. Hoje só me apeteceu escrever-me. Para mim e para ti, que me lês.)




terça-feira, janeiro 11, 2005

"Colombina"



Aqui escreve-se de uma forma lindíssima, sobre assuntos como o amor, os livros escritos por outros e a impressão por eles causada, jogos que todos jogamos na nossa juventude, crenças, História...
Aqui escreve-se com uma sensibilidade que eu não consigo descrever.
Aqui escreve-se!




Sónia



Horas Negras é como se fosse um livro de pequenas histórias com princípio, meio e fim. Assim, sem mais. Quando começamos a ler levamos uma bofetada dada por uma escrita concisa e desconcertante. E não conseguimos parar - não queremos! É daquelas leituras que nunca nos deixam indiferentes! Ler este blog é uma experiência fascinante!




Filipe



A displicência é uma atitude que raramente passa por aqui. Por muito que o autor barafuste contra esta minha análise! Os textos que se podem encontrar aqui, são uma forma sentida de ver o mundo e as suas realidades mais sujas...
Muito pessoal e intimista, transmite-nos uma sensação estranha de que somos displicentes em relação à vida... nossa e dos outros. A displicência está connosco.




Elvira



Écrite en Français, Tabacaria est une vraie productrice de nouveaux « posts » tous les jours, à raison de plus qu'un par jour !
Et maintenant en Portugais, car mon Français n'est pas aussi bon que ça.
A Tabacaria é uma fonte de receitas de pratos tradicionais portugueses. Enquanto se saboreiam tais manjares, pode ler-se sobre a actualidade mundial de forma por vezes humorística, por vezes séria. Também nos é oferecida poesia criada pelos melhores poetas, enquanto se descansa o olhar sobre fotografias e pinturas oportunamente escolhidas...




segunda-feira, janeiro 10, 2005

Pequenão



Quase todos os dias, por vezes mais do que uma vez por dia, o Estilhaços presenteia-nos com uma nova surpresa:

hilariante,
crítica,
sarcástica,
bonita,
ou simplesmente surpreendente.




"Iluminado"



Quando a boa música se junta à boa pintura, à excelente poesia e aos bons livros, surge o Luminescências. Juntam-se também outras coisas interessantes, a um ritmo quase diário!




Hugo Garcia



Numa vertente um pouco mais politizada, este "blogólico" apresenta, em co-autoria, alternativas para a resolução dos problemas que enfrenta o nosso Portugal... E nós com ele.
Iniciativa interessante, numa altura em que todos se sentem tentados a apresentar a sua crítica, sem no entanto avançar soluções.




"Freak"



Aqui pode aproveitar-se para se entender um pouco melhor o que é exactamente a profissão "Copywriter". Um criativo, "Freak do Word" que partilha connosco alguns truques da profissão, entre outras coisas.




domingo, janeiro 09, 2005

"Encandescente"



As paredes frias da cidade enchem-se de tons púrpura, de fogo, quando se tornam translúcidas e deixam adivinhar quem se esconde por trás...

Parede nua, corpo nu, amor a nu.
O toque das palavras na pele da mente, faz com que a sua nudez inocente se torne num amplexo verbal cheio de erotismo. Despe-se também a alma, e da forma mais simples nascem os mais belos poemas...
As crónicas e pequenos contos cheios de ironia e humor quase sarcástico também fazem parte deste muito bem escrito reino mágico e intimista.




"Inconfidente(s)"



Espaço de inconfidências! O lado feminino de uma relação saudável a dois reflectida em todas as relações a dois existentes no mundo...
Aqui não há preconceitos. A descontracção e a abertura da mente funcionam aqui como espaço para desabafos e de sugestões para temperar de especiarias a vida conjugal.
Ou como impedir que uma relação caia na mais aborrecida rotina...




sábado, janeiro 08, 2005

Bruno Domingues Machado



A vida de muitas personagens retratadas em pequenas histórias e contos, sob a forma de diários do mundo. A identidade dessas personagens? Podia ser eu ou tu...




McCoy



Um dia, um rapaz que amava a cor cinza, presumo que pela sua sobriedade e facilidade em dar-se bem com todas as outras cores, resolveu escrever sobre um menino cinza que tem dificuldade em perceber se existem outras cores ou se elas lá estão mas fora do seu alcance...

Cinza nevoeiro
Cinza nuvem alta
Cinza a tinta com que se escrevem as linhas limpas.
Cinza os sentimentos que querem cobrir-se de vermelho, azul e verde... Será?




sexta-feira, janeiro 07, 2005

Camila



Frases curtas, certeiras, to the point!
A eloquencia é rainha neste blog.
Camila possui o dom de dizer tudo sem excessos.
É eloquente e por vezes desconcertante.




quinta-feira, janeiro 06, 2005

Nos próximos dias, e a partir de hoje, dedicar-me-ei a escrever pequenos textos (aglomerados de palavras) sobre os blogues dos comentadores assíduos no Caipirinhas e sobre os blogues que leio assíduamente (nem sempre coincidem). Há um link no título, para o respectivo blog. Espero que apreciem...
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Du



Homem de Pedra com coração de diamante em bruto
Já a ser lapidado por um amor transbordante...
Sim, porque o amor encerrava-se dentro das muralhas mas vivia, incandescente, qual lava de núcleo terrestre!
Homem-Pedra, Homem-Coragem! Porque canta e celebra o amor sob a forma de poemas sinceros e verdadeiros... Contagiantes!
O amor é como as fadas e os duendes: vive do nosso querer. Tão só.




quarta-feira, janeiro 05, 2005

Silêncio... A duas vozes.

- Observaste os 3 minutos de silêncio?

- Eu até observei 6 minutos de silêncio...

- ?????????????????????????????

- Pois, estou tão espantado como tu!!!! Porque a senhora Europa, com as suas pretensões unificadoras não soube fazer 3 minutos de silêncio em uníssono...

- ...!!!

- Pois é, Europa central abriu o concerto e uma hora depois juntaram-se-lhe os portugueses e os ingleses... Coisas de fusos horários: impossíiiiiiveis de contornar (em tom irónico)...




Para ler em silêncio



Hoje faz-se silêncio!
Nem o fado se vai cantar.

Durante 3 minutos, junta-se o frágil silêncio dos vivos ao eterno silêncio da morte.
Só se ouve ao longe as ondas do mar...




terça-feira, janeiro 04, 2005

Aprendizagens (ou como a esgrima de fraquezas para agredir os outros faz de nós seres curvados...)

Certo dia, estava eu sentada num banco do Metro, fazendo de olhos fechados o claustrofóbico percurso rotineiro, quando vejo infamemente interrompida a minha já de si entrecortada sesta. Motivo de tal interrupção? Numa das paragens da linha Verde-espinafre, entra de forma intempestiva uma dupla de criaturas curvadas e engelhadas, uma delas fazendo-se acompanhar por uma bengala de madeira que suportava todo o seu redondo peso, sem um único lamento (a não ser talvez uma curvatura em forma de suspiro resignado, devido ao peso que nela se apoiava).

A primeira coisa que tais criaturas se dignaram fazer aquando da sua entrada triunfante, foi dirigir-se ao banco sinalizado para passageiros inválidos e instantaneamente começar a interpretar um extenso repertório de lamúrias e insultos dirigidos a um par de raparigas jovens que já tentava levantar-se para dar lugar. O seu gesto foi dificultado pela obstrução obstinada que as duas corcundas faziam, decididas a não deixar as raparigas passar sem ter antes ouvido todos os impropérios que lhes tinham sido tão carinhosamente dedicados.
“Ó suas estúpidas” “Aaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!! (quando a composição arrancou com a gentileza típica que alguns maquinistas lhes sabem tão bem imprimir)” “Sou cega (berrava a da bengala de madeira)!!” “Suas mal educadas, não dão lugar aos mais velhos” “Esta juventude de hoje em dia!”

E a resposta:
“Estamos a tentar levantar-nos, se nos quiser dar licença...”

Lá se levantaram as raparigas e sentaram as corcundas (o peso de anos de ressentimento?). As duas sentadas continuavam a ensaiar o seu chorrilho de lamentos insultuosos. Claro que depois disto não voltei a pregar olho. Por causa de tal banda-sonora, ainda pior para os nervos do que o chiar das rodas nos carris...

As duas jovens conseguiram sentar-se na paragem seguinte. Todos os restantes passageiros trocavam olhares constrangidos entre si olhando em seguida para as duas senhoras-criaturas e abanando a cabeça em sinal de reprovação. Silêncio... Só se ouvia o matraquear das duas e o chiar dos carris... Ninguém bateu palmas perante semelhante interpretação... O melhor número vem a seguir....

Eis que abranda o Metro e preparam-se as duas jovens para abandonar a carruagem. Não sem antes se rematar a cena da forma que passo a descrever:

Uma das jovens, com um estranho olhar azul, quase branco, como naqueles dias em que o céu se envolve num manto de neblina translúcida. Essa jovem, dizia eu, preparada, em frente à porta, vira-se na direcção das duas criaturas e proclama, imediatamente antes de sair:

“Para sua informação, eu tenho tanto direito a sentar-me nesse banco como a senhora. Eu também sou cega!”


A cara das criaturas defigurou-se de espanto e vergonha e o ambiente na carruagem ficou muito mais leve, com os passageiros a sorrir uns para os outros, disfarçadamente.

Depois disto, silêncio... Só se ouvia o chiar dos carris.




segunda-feira, janeiro 03, 2005

Arsène Lupin


Garanhão Lusitano

Arsène Lupin, famoso ladrão e cavalheiro, apenas roubava torrões de açúcar dos meus bolsos, com os seus lábios preenseis e sensíveis...

Sempre vestido de branco dos pés à cabeça fazia questão de se pavonear mostrando a sua delumbrante musculatura de garanhão Lusitano, já grisalho, mas ainda com muito vigor e vida! Os seus olhos sempre alerta tinham dificuldade em seguir os movimentos das suas orelhas, sempre apontadas para a direcção do menor ruído..
Arsène é um cavalo, claro. Este Arsène a que me refiro, pelo menos!

Costumava montá-lo nas aulas de Domingo de manhã. Tinha um passo lento, mas firme. E quando saltavámos os pequenos percursos de rias e barras, nunca mais altas do que um escasso metro, Arsène ganhava asas! E energia extra! Corria para os obstáculos como se fossem torres de cinco metros! Arqueava o pescoço todo e logo o tornava a esticar como se para tomar balanço para transpor a vida...

Devido aos seus instintos atávicos, os cavalos não se deixam surpeender facilmente deitados, fragilizados. Até nos seus carcereiros de duas pernas vêm por vezes um potencial predador ou fonte de aflições. São criaturas esquivas e nervosas, por muito bem tratados que sejam. Faz parte da sua natureza de presa difícil...

Um dia cheguei atrasada. Arsène não tinha sido, portanto, aparelhado. Fui buscar o arreio e a cabeçada e dirigi-me à porta da morada de Arsène... Bati à porta.

Estranho? Não... Não é estranho que nos batam à porta antes de entrar...

Arsène aproveitara o meu atraso para por o sono em dia! Deitado na palha da box, apenas olhou na minha direcção. Não fez menção de se levantar, sequer. Fiquei radiante!! Que miúda é que se mantém indiferente perante tal demonstração de confiança... Mesmo que fosse uma demonstração de preguiça de um equídeo experiente e habituado ao contacto com os seus frequentes visitantes bípedes: fiquei contente! Pronto! Cheguei a sentir a lágrimazinha a assomar ao cantinho do olho, quente e salgada... Baça. Lamechices... Talvez, mas Arsène era um amigo.

Entrei poisei o arreio na porta da box e falei com o meu amigo branco, ladrão de torrões de açúcar. É preciso dizer que nem sempre os trazia no bolso. Arsène habituara-se à irregularidade no fornecimento destes preciosos e doces tesouros quadrados. Não esperava. Procurava, mas não ficava de mau humor se os não encontrasse escondidos no fundo do bolso.

Sentei-me ao lado da grande massa branca cujo nariz expelia uns bafos quentes a ritmo regular. E pesquisava, com a sua pele sensível. Estive um bom bocado com ele a massajar-lhe os músculos fortes com um punhado de palha limpa. Mais para lhe remover algumas manchas amareladas de origem suspeita... Numa pelagem branca tornam-se demasiado evidentes e além de inestéticas... Incomodativas para o cavalo, imagino... Aparelhei-o, finalmente. E finalmente se dignou levantar-se para me deixar apertar a cilha... Levei-o pelas rédeas, a pé, até ao picadeiro. Pedi licença para entrar, timidamente. Consciente do atraso, mas feliz! O instrutor soltou um “Tardou mas arrecadou!!!”, sonoro, mas risonho! Alívio... Apertei a cilha mais uns dois furos, porque Arsène Lupin, ladrão de torrões de açúcar, sempre vestido de branco, era também muito astuto. Tinha o hábito de encher de ar os seus grandes pulmões de garanhão Lusitano no momento em que se apertava a cilha em torno da sua enorme caixa toráxica e se um cavaleiro mais distraído não tivesse o cuidado de a verificar após ter feito o sábio animal dar alguns passos... Teria uma desagradável e escorregadia surpresa quando pusesse todo o seu peso sobre o estribo, na altura de montar!!!

Finalmente montei e voltei a ser apenas mais um cavaleiro e a sua montada, misturados numa amalgama de estribos, pernas, toques e ruídos abafados de cascos na terra do picadeiro...

Arsène era sobretudo um amigo...

Não mais voltei a vê-lo depois dessa derradeira aula de salto de osbtáculos que Arsène sempre transpunha com vigor exagerado... Não voltei a saltar com aquele cavalinho branco e musculado de pescoço grosso e arqueado, que gostava de limpar todos os grãos de açúcar que ficavam nas minhas mãos... Como se deles viesse toda a energia que inventava, para transpor as incalculaveis barreiras que imaginava no seu cérebro equino, na altura em que salta, às cegas... Talvez não gostasse de saltar e quisesse saltar tudo de uma vez, para ficar descansado! Talvez tivesse um gosto tão grande pelo exercício de saltar que o fazia com mais entusiasmo do que uma aborrecida aula de ensino...
Arsène era sobretudo um amigo, mas nunca consegui perceber o que lhe ia na alma Lusitana...




sábado, janeiro 01, 2005

1 de Janeiro de 2005 (ou um dia a mais que ontem e um dia a menos que amanhã)



Ano novo vida nova.
Ano novo vida mesma, que só os gatos as vivem 9...
Ano novo vida escolhida.
Ano novo insegurança, desespero e incerteza?
Ano novo prosperidade, força e esperança?
Ano novo atitude!
Ano novo acordem-e-abram-bem-os-olhos!
Ano novo mexam-se!
Ano novo cheio de fazer-o-que-está-ao-alcance!
Ano novo vai-dar-tudo-certo!

Se o problema do futuro é teimar em tornar-se presente, e o novo ano mais não é do que uma divisão artificial imposta, aproveitemos as festividades para parar, descansar, olhar em volta e decidir!

Ano novo, bem-vindos!