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quinta-feira, março 31, 2005

Frescuras

Saltito. De um pé para o outro e vice versa.
Cantarolo. Trauteio uma melodia.

Esqueço-me da letra... Pareço um disco riscado,
Mas continuo.
Atiram-me tomates, ovos frescos, farinha.

Dava para fazer um bolo, se excluirmos os tomates e as reclamações. Esses poderiam ser aproveitados para compota. Ou para coisa nenhuma. Ou para ficarem simplesmente escorrendo pelo meu rosto cantarolante.

Eu prometo que aprendo o resto da letra.

É mentira, mas pelo menos deixam-me trautear mais umas vezes!

E ó, não é que estamos agora todos a cantar os mesmos dois versos da canção?

Vezes sem conta!

Sou um génio, acabei de criar um movimento perpétuo!

Poiso mal o pé, desequilibro-me, apoio-me sobre uma nota mal colocada, desafino e acaba tudo em gargalhadas sonoras... Pelo menos posso registar a minha criação na secção de música contemporânea... Será?

Pelo menos alguém disse que canto bem. Foi assim como uma espécie de palmadinha nas costas depois do orgulho ferido.

Foi divertido, mas não vamos fazer outra vez! Tá?




terça-feira, março 29, 2005

MenSa(N)geiro

Chegas. Momentos antes tinha-me levantado.
Chego. Momentos antes tinhas saído.
Saio para ir ali. Chegas de acolá.
Esperas. Vais resolver algo pendente.
Volto. Não estás.
Fecho os olhos para respirar fundo, quase como as rãs. Só que elas não respiram fundo. Respiram pelos poros.
E neste aparte respiratório voltaste, mandaste-me um beijo e saíste de forma definitiva.
É apenas por agora, mas “offline” fere o orgulho...




sexta-feira, março 18, 2005

Vou ali e já volto

Vou à procura da despretensão.
Voltarei quando a encontrar de novo (a quem interessar).
Entretanto, estarei aqui todas as 2as feiras.

Nota: os posts são muito autobiográficos. São a autobiografia de uma personagem. Pelo que quer que seja que isso vale.




quinta-feira, março 17, 2005

Mau génio

(Num fim de tarde perdido no tempo e soalheiro, sempre soalheiro. Algures en Mexico, porque no)

- Lima?

- Mmmmm... (esgar desenhado no rosto)

Bitter-sweet mal doseado.

- Mas azúcar e mas un pingo de Cachaça, por favor. O Mezcal, si tienes.

Why the fuck not!
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Notinha: aqui, aqui! Estou aqui!!!




domingo, março 13, 2005

A porta bateu.
E o silêncio do lado de dentro adquiriu o peso do chumbo.
A solidão abateu-se sobre ela como uma sombra.
Teve receio de olhar para a porta, por cima do ombro.
Ficou imóvel, encolhida sobre si mesma, como que para proteger os orgãos internos do soco certeiro. A dor física.
Sentiu-se desfalecer.
Esvaiu-se em água pelo chão da casa. Escorreu pela varanda e caiu para a rua.
Fez ricochete no chão. Caiu sobre o rosto macio de um jovem que passava.
Perguntaram-lhe, a ele, porque chorava.
Não sabia. Apenas o nó na garganta. Inexplicável.

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Notinha: espreitem aqui.




sexta-feira, março 11, 2005

Mustang Sally

Night club. Sexta-feira à noite. Anos 20? Mmmm... Melhor 30. Juntemos mais 30. Ficamos nos 60, pode ser?
As mesas cheias! As empregadas de mesa carregam bandejas com os pedidos. Hoje só se serve bebidas brancas. A combinar com ingrediente à escolha. Os preferidos são as frutas. As margaritas, as cubas livres e os daiquiris viajam do bar para as mesas e pela sala. As caipirinhas são as privilegiadas.
As luzes apagam-se. Acende-se o foco no palco. Rodela branca de luz. Chega o coro. 3 mulheres vestidas de lantejoulas. Saias negras compridas e com longas rachas no tecido, deixando antever a carne da coxa. Entra o vocalista. Óculos escuros e chapéu preto. Jeans, guitarra e... Longas barbas de ébano! Mustang sally.

O público vibra.

A secção de metais reluz. O latão polido propositadamente para a ocasião. As bochechas quase explodem para fazer falar as bocas do saxofone e dos trombones de vara.
Saltam as teclas do piano preto.
3 sorrisos sensuais com promessas de perdição. Um grande sinal negro numa das faces, bem perto do lábio superior, do lado esquerdo. Olhar fatal. Pestanas longas, de breu: ride sally, ride.

Bebe-se o último golo. Acaba o número. Aplausos. Saem as meninas de lantejoulas e ébano, sai o vocalista de óculos escuros. Aplausos. Saem os espectadores. Apaga-se a luz. Fica o Night club. Preto, vazio. Amanhã há mais.




quinta-feira, março 10, 2005

Paisagem através do vidro

Através do vidro da janela do carro, a menina espreita.
Lá fora passam a correr as casas, as pessoas, a estrada.
Sinal vermelho.
Passa o peão com o cão. Cego. Cegos ambos, talvez. O nariz de um o ouvido do outro.
Passa ainda outra criatura.
Sinal verde.
Casas, pessoas, estrada.
Passadeira. Riscas pretas de asfalto sobre tinta branca.
Soa o ruído dos travões a fundo.
Acompanha-o o baque surdo da cabeça no vidro.
Sons longínquos.
Vermelho.
Nada.




terça-feira, março 08, 2005

Léxico

Uma mulher é.
Homo sapiens, género feminino.
Dores de cabeça, ancas largas.
Alegrias, irritações, indiferenças.
Uma mulher é todos os dias.
Sensível, execrável, romântica, calculista.
Ser humano, com todos os atributos. Incluindo seios volumosos,
inteligência, carácter.
Incluindo maldade, sensibilidade e (ir)racionalidade... e direitos. Humanos, os direitos.

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Notinha: votem aqui se acharem por bem. E visitem isto, se vos apetecer.




domingo, março 06, 2005

Monólogo

Os braços ondulantes.
O ventre movimenta-se, hipnótico.
Hip-hopico. Oriental.
Olhar verde-azeitona. Escuro. Fixo. Implacável.
Desmontas no teu cérebro o corpo. Serpente.
O ventre.
Papel branco. Traços.
Os braços.
Cobres o que sentes com véus semi-transparentes...
Fechas os olhos.
Escreves.
Abres os olhos e lês.
Vês.
Verde-azeitona. Sim.

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O que faço das saudades que ficam quando te vais?




quarta-feira, março 02, 2005

Lisboa

Paredes brancas, fim de tarde. Frases sem verbos. Se as ruas são o verbo, os sujeitos que as percorrem carregam nas mãos os seu complementos directos, ou indirectos, qual cachorro pela trela.

Na varanda os lençóis brancos secam ao sol e molham quem passa por baixo, incauto. Se a vizinha se encontra na esquina pára-se para dois dedos de conversa e mais cinco reis de tempo, que na Lisboa dos becos talvez ainda se guarde a recordação da moeda antiga, e do valor do tempo dado às conversas de esquina.

Lá vem o turista com a máquina. Perdeu-se, com certeza. Que achas tu, maria? Alimão ou Ingalês? Se não fosse a cabaleira loira era japanês de sarteza, mlhéri! Gargalhadas desavergonhadas, com todos os dentes que ainda lhes restam. Um pré-molar na mandíbula superior, dois ou três incisivos na de baixo. Risos espontâneos, superiores a questões estéticas e que não interferem com a saúde, a julgar pelo ar anafado...

Recolhe-se o lençol ao fim da tarde. O fim de tarde dos Verões lisboetas é feito de mel a escorrer pelas paredes brancas. Por isso Lisboa é doce.

Á noite, Lisboa vive. Não é a vida das grandes capitais. É a vida de Lisboa. Um bairro no alto da colina estende os seus braços por entre os prédios antigos. As portas abrem-se e os sons saem. As pessoas entram. Os copos circulam. Vazios para dentro, cheios para fora. As pessoas saem. E voltam a entrar, na porta ao lado. Num movimento ondulante de risos, vozes altas e cumplicidades.

A casa das camisinhas abre as portas também. O bairro do amor como o Jorge lhe chamou, quer-se seguro. E nas quecas do fim de noite há angústias que se apagam como os cigarros, ao lado de um desconhecido, esmagadas pelo peso dos corpos. Não importa o susto que se vai apanhar no dia seguinte. A camisinha serviu, o rosto outrora cúmplice e nesta hora matinal, desconhecido, cansado. A luz de mel já ilumina o quarto. A parede branca em frente deixa ver uma ameia da muralha do castelo, através de duas janelas.

Lisboa.


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Notinha de rodapé: esta semana puseram o bar a votos aqui. Se tiverem um tempinho, vão lá manifestar o apoio! Obrigada. :)