Lisboa
Paredes brancas, fim de tarde. Frases sem verbos. Se as ruas são o verbo, os sujeitos que as percorrem carregam nas mãos os seu complementos directos, ou indirectos, qual cachorro pela trela.
Na varanda os lençóis brancos secam ao sol e molham quem passa por baixo, incauto. Se a vizinha se encontra na esquina pára-se para dois dedos de conversa e mais cinco reis de tempo, que na Lisboa dos becos talvez ainda se guarde a recordação da moeda antiga, e do valor do tempo dado às conversas de esquina.
Lá vem o turista com a máquina. Perdeu-se, com certeza. Que achas tu, maria? Alimão ou Ingalês? Se não fosse a cabaleira loira era japanês de sarteza, mlhéri! Gargalhadas desavergonhadas, com todos os dentes que ainda lhes restam. Um pré-molar na mandíbula superior, dois ou três incisivos na de baixo. Risos espontâneos, superiores a questões estéticas e que não interferem com a saúde, a julgar pelo ar anafado...
Recolhe-se o lençol ao fim da tarde. O fim de tarde dos Verões lisboetas é feito de mel a escorrer pelas paredes brancas. Por isso Lisboa é doce.
Á noite, Lisboa vive. Não é a vida das grandes capitais. É a vida de Lisboa. Um bairro no alto da colina estende os seus braços por entre os prédios antigos. As portas abrem-se e os sons saem. As pessoas entram. Os copos circulam. Vazios para dentro, cheios para fora. As pessoas saem. E voltam a entrar, na porta ao lado. Num movimento ondulante de risos, vozes altas e cumplicidades.
A casa das camisinhas abre as portas também. O bairro do amor como o Jorge lhe chamou, quer-se seguro. E nas quecas do fim de noite há angústias que se apagam como os cigarros, ao lado de um desconhecido, esmagadas pelo peso dos corpos. Não importa o susto que se vai apanhar no dia seguinte. A camisinha serviu, o rosto outrora cúmplice e nesta hora matinal, desconhecido, cansado. A luz de mel já ilumina o quarto. A parede branca em frente deixa ver uma ameia da muralha do castelo, através de duas janelas.
Lisboa.
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Notinha de rodapé: esta semana puseram o bar a votos aqui. Se tiverem um tempinho, vão lá manifestar o apoio! Obrigada. :)
Na varanda os lençóis brancos secam ao sol e molham quem passa por baixo, incauto. Se a vizinha se encontra na esquina pára-se para dois dedos de conversa e mais cinco reis de tempo, que na Lisboa dos becos talvez ainda se guarde a recordação da moeda antiga, e do valor do tempo dado às conversas de esquina.
Lá vem o turista com a máquina. Perdeu-se, com certeza. Que achas tu, maria? Alimão ou Ingalês? Se não fosse a cabaleira loira era japanês de sarteza, mlhéri! Gargalhadas desavergonhadas, com todos os dentes que ainda lhes restam. Um pré-molar na mandíbula superior, dois ou três incisivos na de baixo. Risos espontâneos, superiores a questões estéticas e que não interferem com a saúde, a julgar pelo ar anafado...
Recolhe-se o lençol ao fim da tarde. O fim de tarde dos Verões lisboetas é feito de mel a escorrer pelas paredes brancas. Por isso Lisboa é doce.
Á noite, Lisboa vive. Não é a vida das grandes capitais. É a vida de Lisboa. Um bairro no alto da colina estende os seus braços por entre os prédios antigos. As portas abrem-se e os sons saem. As pessoas entram. Os copos circulam. Vazios para dentro, cheios para fora. As pessoas saem. E voltam a entrar, na porta ao lado. Num movimento ondulante de risos, vozes altas e cumplicidades.
A casa das camisinhas abre as portas também. O bairro do amor como o Jorge lhe chamou, quer-se seguro. E nas quecas do fim de noite há angústias que se apagam como os cigarros, ao lado de um desconhecido, esmagadas pelo peso dos corpos. Não importa o susto que se vai apanhar no dia seguinte. A camisinha serviu, o rosto outrora cúmplice e nesta hora matinal, desconhecido, cansado. A luz de mel já ilumina o quarto. A parede branca em frente deixa ver uma ameia da muralha do castelo, através de duas janelas.
Lisboa.
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Notinha de rodapé: esta semana puseram o bar a votos aqui. Se tiverem um tempinho, vão lá manifestar o apoio! Obrigada. :)
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