Metamorfose

Aceitara um emprego novo. Todos os dias de manhã, pontual, inseria o cartão no relógio de ponto. 09:00 H, marcava o mostrador. Entrava no elevador, ajeitava a gravata, ao espelho. Como se do nó dependesse toda a sua integridade...

Ao fim do dia, o ritual era diferente, mas nem por isso menos religioso. Cada vez lhe atribuiam mais trabalho e como ia sempre ajeitando a gravata, ao longo do dia, ajustando a integridade ao pescoço, como se disso dependessem os outros, nunca deixava nada por fazer.

Uma manhã, que se adivinhava igual às outras, com duas horas de sono, um café e à mesma hora de sempre, ajeitou o nó da pontualidade ao espelho e reparou que em vez de pelos escondidos por trás do colarinho imaculado, tinha penas!

Encerrou-se no escritório atirando-se à sua mesa, prenhe de acumulações de trabalho, fruto dos abusos das chefias... À noite, por volta das 23:45, sozinho no seu escritório, fez uma pausa, desapertou a gravata, abriu a janela e levantou voo na noite escura...

Na manhã seguinte, em cima da mesa de trabalho e da sua progenitura de papel e ofícios, jaziam uma gravata cinzenta e uma generosa deposição de excrementos de coruja...